domingo, 29 de agosto de 2010

Mulheres orientais e ocidentais 1

Amigos, muitas pessoas pediram um resumo da palestra sobre a imagem da mulher árabe, então aqui vai. Vou fazer algumas postagens a respeito deste assunto, ainda muito atual.
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A IMAGEM DAS MULHERES ORIENTAIS NA PINTURA DO SÉCULO XIX
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Considerados à margem da civilização, os povos orientais foram procurados como alívio para as angústias e pressões do desenvolvimento acelerado das cidades no século XIX.
Eles foram considerados o “outro”, o “selvagem”, por ter características diferentes das ocidentais. O diferente foi julgado inferior, atrasado.
Desconsiderados no que tinham de real, foram analisados e descritos seguindo a visão ocidental que se teve deles, muitas vezes a partir do que já se havia escrito sobre estes lugares e pessoas, criando uma espiral de escritos enganosos ou limitados.
Sua realidade não foi vista nem ouvida, mas representada. O observador sempre interfere em seu objeto de pesquisa, mas os limites para isso foram ultrapassados, criando uma cultura, uma disciplina que analisava e regulamentava o estudo destes povos, chamada “orientalista”.
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Falou-se pelos orientais, construiu-se uma imagem.
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A palestra abordou qual imagem foi construída a respeito da mulher árabe, frequentemente representada por uma “odalisca” que, por sua vez, está presente nas pinturas como uma pessoa nua e disponível, passiva, em silêncio.
O silêncio imposto a estes povos abre a possibilidade de se falar por eles, de retratá-los conforme as necessidades e fantasias do momento.
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Mulheres ocidentais (esq.) e orientais (dir.)
retratadas pelo mesmo artista (Ingres, 1780 - 1867)

Por um lado, as mulheres árabes são representadas em haréns orientais, reclinadas, ociosas, com o corpo exposto e aberto, seminu, à espera de algo. Já as ocidentais são representadas totalmente vestidas, eretas: estão ativas, tranqüilas, parecem seguras de seu valor, de seu olhar.
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Esta era a forma de representar, através da pintura o discurso proferido na época em relação ao Oriente. Existiu neste período uma atração pelo Oriente, com viagens, literatura e pintura “descrevendo” a região e seus costumes.
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Certamente os costumes eram diferentes na Europa e países do Oriente, como retratado nas telas abaixo. A arquitetura, o corte das roupas, os tecidos, a postura, os gestos, a estrutura social, a forma de comunicação. Mas os diferentes costumes não incluem a mulher estar sempre à disposição, desnuda.
É importante notar a linha divisória entre retratar costumes diferentes e fantasiar diferenças, ou pior, inventar costumes e atitudes que fazem com que a imagem fique profundamente distorcida.
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Esquecemos que a pintura também é um discurso.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Palestra sobre a mulher árabe


"Odaliscas: vistas ou imaginadas?"

Com Marcia Dib


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O Oriente tem sido abordado de maneira simplista e, muitas vezes, excessivamente fantasiosa.
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Um exemplo é a forma como as mulheres árabes foram retratadas pelos pintores orientalistas que, mesmo sem nunca ter entrado em um harém, faziam retratos "realistas" sobre este ambiente.
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A palestra mostra como eram os haréns, quais as funções das mulheres dentro de sua hierarquia e, afinal de contas, quem eram as odaliscas dentro desta.


Local: BibliASPA
Rua Baronesa de Itú, 639 - Higienópolis
Dia 21 de agosto, sábado, às 15h30
Entrada franca

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Acontece em agosto

Vale a pena conferir algumas atividades culturais que acontecerão em São Paulo no mês de agosto:

SHOW

"Mutrib"
Dentro do Projeto Músicas do Mundo, o grupo Mutrib faz uma viagem musical que vai do Magreb (região arabizada ao norte da África: Egito, Tunísia, Marrocos) atravessando Turquia, Palestina, Síria, Israel, e chegando ao leste europeu, Albânia, Grécia, Macedônia, Romênia e Bulgária. O show é um grande mosaico dessas culturas.
A maior parte dessas regiões foram frequentadas pessoalmente pelos músicos do MUTRIB em intercâmbios musicais. Com Gabriel Levy (acordeom), Beto Angerosa (derbak), Deivão Tubista (tuba), Eder Rocha (davul e percussão), Mario Aphonso (flauta e sax) e Valéria Zeidan (pandeiros). Praça de Eventos.

Local: SESC Vila Mariana
Rua Pelotas, 141
Sábados, dia 7 e dia 21 de agosto, às 13h30
Entrada franca


PALESTRA

"Odaliscas: vistas ou imaginadas?"
Com Marcia Dib
O Oriente tem sido abordado de maneira simplista e, muitas vezes, excessivamente fantasiosa. Um exemplo é a forma como as mulheres árabes foram retratadas pelos pintores orientalistas que, mesmo sem nunca ter entrado em um harém, faziam retratos "realistas" sobre este ambiente. A palestra mostra como eram os haréns, quais as funções das mulheres dentro de sua hierarquia e, afinal de contas, quem eram as odaliscas dentro desta.

Local: BibliASPA
Rua Baronesa de Itú, 639 - Higienópolis
Dia 21 de agosto, sábado, às 15h30
Entrada franca


TEATRO

"As folhas do cedro"
Com texto e direção assinados por Samir Yazbek, a peça conta a história de uma mulher de meia idade que, por meio de sua memória e imaginação, revisita suas origens, procurando sua identidade.
Para esta obra, Yazbek, filho de imigrantes libaneses, buscou inspiração em sua ascendência, bem como na história de várias famílias de imigrantes libaneses e de outras nacionalidades.
http://asfolhasdocedro.arnesto.art.br/pages/sobre-o-espeticulo

Local: SESC Vila Mariana
Rua Pelotas, 141
6as. e sábados, às 21h, domingos às 18h (até 22 de agosto)
Entrada: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)


CINEMA

"Esperança em um tiro de estilingue"
Direção: Inka Stafrace Palestina, Israel e Austrália, 2008. 61 min.
Instigada pelas crescentes ondas de racismo contra árabes e muçulmanos no seu país de adoção, a Austrália, a cineasta Hinka viaja à Cisjordânia para tentar descobrir as razões do conflito permanente naquela região. Aos poucos, ela vai enxergando as raízes da luta desigual, a violência do plantio de árvores por colonos judeus, a humilhação nos check points e principalmente, a decisão de resistir mesmo diante de todas as injustiças.
Didático e corajoso, o filme mostra como o agricultor palestino vê sua terra roubada sob o governo militar israelense, que também retira dele os direitos básicos de sobrevivência.
Este é apenas um dos inúmeros procedimentos que “Esperança em um tiro de estilingue” desconstrói para arrancar o véu com que a mídia internacional oculta a brutalidade da ocupação israelense nos territórios palestinos.

Local: Clube Sírio - auditório
Avenida Indianópolis, 1192
Sábado, dia 21 de agosto, às 16h
Entrada Franca

terça-feira, 8 de junho de 2010

Música árabe: novo lançamento do livro

Vou fazer um novo lançamento do meu livro Música Árabe: expressividade e sutileza, junto com uma palestra sobre o tema. É uma oportunidade para ouvir um pouco a respeito das principais características da música árabe e também de adquirir o livro, às vezes difícil de encontrar (como algumas pessoas já relataram).

É um evento gratuito, aberto ao público em geral. As informações sobre o evento e algumas características da música árabe estão abaixo.

Caso tenham alguma dúvida ou sugestão, escrevam para marciadib@hotmail.com

Espero vocês la!


O Núcleo de Cultura Árabe do Esporte Clube Sírio e as Edições BibliASPA convidam para a


PALESTRA E LANÇAMENTO DO LIVRO

MÚSICA ÁRABE: EXPRESSIVIDADE E SUTILEZA




Dia 12 de junho, às 16h (palestra) e 17h (sessão de autógrafos)

Auditório do Esporte Clube Sírio
Avenida Indianópolis, 1192

Aberto ao público em geral









"Sendo a música árabe uma arte integrada com outras áreas do conhecimento e da existência, ela tem o poder de tocar profundamente os sentimentos, e as pessoas respondem a ela com seu corpo e sua mente.
Neste livro, a autora explora as concepções de mundo que levaram a música árabe a ser tão admirada, envolvente e complexa.
O tempo concebido como circular, manifestando-se em torno de um eixo; o aprendizado baseado na oralidade; a importância da memória e da palavra; a atuação dos sons sobre o corpo e a mente; são alguns dos assuntos abordados, e estes influenciam a composição, a execução e o aprendizado musical.
Além disso, são expostas as principais características melódicas e rítmicas da música árabe, como o sistema modal, a formação das escalas, a afinação, as relações entre som e silêncio.
Dentro de um mercado escasso em publicações sobre a cultura árabe, essa iniciativa editorial é importante e benvinda."

domingo, 4 de abril de 2010

Tempo circular e imersão


Na cultura árabe, de um modo geral, o tempo é pensado como círculo, símbolo da perfeição. O cosmo “é concebido como algo que se expande e contrai ciclicamente” (Marsicano, p. 59)1, em uma visão de grande ciclo de existência do universo. Existem também os pequenos ciclos, como os movimentos planetários, as estações do ano, o dia e a noite; acontecimentos que se repetem, mas sempre de forma renovada, como uma espiral, já que não existe repetição absoluta no universo.

As pessoas buscam estar afinadas com os ciclos do universo. “A sensação de tempo é dada pela afinação corporal e espiritual com uma série de ciclos micro e macrocósmicos integrados, codificados em cadeias analógicas” (Wisnik, p. 83). Aqui o tempo não é medido pelo relógio ou metrônomo, mas de forma a acompanhar os ciclos naturais, que não são lineares nem idênticos.

“Mais do que qualquer outra forma, o círculo implica um centro” (Tuan, Topofilia, p. 43). Tanto no Ocidente como no Oriente, a ideia do tempo circular era acoplada à ideia de centro. Isso se refletiu nas artes, na filosofia, na cosmologia, na geografia. Era comum a ideia de etnocentrismo entre os povos, como forma de autorreconhecimento e defesa. Uma nota musical era o centro na música, dançava-se em círculo, Deus era o centro na cosmologia e o próprio povoado era o centro geográfico.

Quando o tempo é concebido como circular, o que tem mais valor é a experiência, a imersão naquele momento. Assim, é possível estar vivenciando uma situação semelhante, mas a experiência é nova, pois a característica temporal dominante é o instante, a duração, o tempo presente. E a percepção do tempo vincula-se a percepções corporais como, por exemplo, a respiração ou o tempo de audição. “Os indianos usam o batimento do coração ou o piscar do olho como referência” (Wisnik, p. 17).

No caso da poesia e das canções, por exemplo, os temas se repetem, mas “tratam de coisas que, mesmo reiteradas, nunca ficam velhas” (Soler, p. 20). Tratam das dificuldades humanas, amores, natureza, “e essas coisas elementares são eternas” (Soler, p. 21). Essa repetição permanente do diferente acontece também na estrutura da música.
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A música modal, à qual essa concepção de tempo é relacionada, existiu no mundo europeu até o Renascimento, e ainda hoje é utilizada pelos árabes, indianos e alguns outros povos. Com frases melódicas girando em torno de uma tônica (nota de base), cria um efeito hipnótico, uma espécie de suspensão do tempo, possibilitando uma experiência de imersão. É novamente a ideia de círculo: notas que circulam ao redor de um centro, no caso a nota tônica da escala.

Assim, a experiência da circularidade aparece na cultura árabe em suas várias manifestações.


Nota 1. Os astrônomos contemporâneos vieram a comprovar que as galáxias estão se afastando umas das outras e que o universo expande-se a partir de uma explosão inicial


*Este texto foi ibaseado no livro Música árabe: expressividade e sutileza, de Marcia Dib, Edições BibliASPA, 2010

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIB, Marcia. Música árabe: expressividade e sutileza. São Paulo: Edições BibliASPA, 2010
MARSICANO, Alberto. A música clássica da Índia. São Paulo: Perspectiva, 2006.
SOLER, Luis. Origens árabes no folclore do sertão nordestino. Florianópolis:
Editora da UFSC, 1995.
TUAN, Yi-Fu.
Topofilia - um estudo da percepção, atitudes e valores do
meio ambiente
. São Paulo: Difel, 1980.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido - uma outra história das músicas.
São Paulo: Companhia das Letras: Círculo do Livro, 1989.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Espetáculo de danças folclóricas árabes


Show do Mabruk!


Dentro do Festival Sul-Americano de Cultura Árabe, o Mabruk! Companhia de danças folclóricas árabes apresentará um painel da diversidade artística existente no mundo árabe.


São danças da cidade, das áreas rurais, do deserto e junto ao Eufrates, a partir de pesquisas feitas em Damasco, por sua diretora.


Será uma oportunidade de conhecer outras danças além da conhecida Dança do Ventre e se deleitar com a riqueza dessa arte.


Local: Livraria Cultura (auditório) - Shopping Market Place

Data e horário: Dia 28 de março, domingo, às 17h

Entrada Franca


Apareçam e tragam os amigos!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Lançamento de livro sobre música árabe

É com enorme prazer que convido a todos para o lançamento de meu livro

Música Árabe: expressividade e sutileza


Local: Livraria Cultura do Shopping Market Place (em frente ao Shopping Morumbi)

Dia 24 de março, às 19h30 (palestra) e 20h30 (sessão de autógrafos)


Este livro é fruto de parte de meu mestrado e seu lançamento faz parte da série de eventos do Festival Sul-Americano de Cultura Árabe (http://www.festivaldaculturaarabe.org/), e é uma iniciativa da Bibliaspa (Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes)

Obrigada a todos que colaboraram para que este projeto se desenvolvesse!
Espero vocês lá!

* "O sol não se importa de passar por pequenas janelas" (Frederik Van Eeden), caligrafia de Hassan Masoudy

sábado, 20 de março de 2010

Festival Sul-Americano de Cultura Árabe

Este festival foi gerado com muita seriedade, cuidado e carinho, vale a pena conferir!

É uma realização da Bibliaspa (Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul- Países Árabes, que inicia formalmente suas atividades no Brasil, com inauguração de sua sede, que abrigará uma série de atividades.

São muitos os eventos programados: espetáculos, palestras e oficinas, nas áreas de música, dança, artes plásticas, caligrafia, culinária, literatura...

Para conferir a programação, é só acessar o site do festival:
http://www.festivaldaculturaarabe.org/

No menu, é possível ver a programação por dia ou por tipo de atividade. Nos vemos por lá!


Nada mais elevado do que o saber (Caligrafia de Hassan Masoudy)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mestrado em Cultura Árabe

Novas janelas que se abrem...!


Queridos companheiros de reflexão:

Gostaria de informá-los que finalizei minha dissertação de mestrado, cujo tema é:


"A diversidade cultural da Síria através da música e da dança".


Vocês fazem parte deste trabalho pois, direta ou indiretamente, contribuíram para a minha caminhada como pessoa e pesquisadora.

Caso tenha interesse em assistir a defesa, escrevam para marciadib@hotmail.com para saber mais informações sobre data e local.

Obrigada pela companhia neste processo!
Beijo a todos,
Marcia

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Diversidade cultural da Síria

Este é o tema do meu mestrado, que entrego na próxima semana!

Vou falar sobre a riqueza cultural da Síria, enfocando suas músicas e suas danças. Pretendo fazer a defesa no início de dezembro, se tudo der certo. Torçam por mim!

Decidi abordar este assunto porque o Oriente Médio em geral é visto como um bloco homogêneo, sobre o qual é comum falar uma série de inverdades.

Através do estudo das características espaciais, musicais e das danças, procurei mostrar a riqueza deste lugar chamado Síria.

Tive que me dedicar quase que exclusivamente à esta pesquisa, que tem sido maravilhosa! Mas o blog ficou um pouco sozinho... Pretendo recomeçar a escrever em breve!

Obrigada pela companhia !