segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Lançamento livro Música Árabe: expressividade e sutileza

Destinado tanto a leigos como a músicos e pesquisadores. São claramente descritas as principais características melódicas e rítmicas da música árabe: o sistema modal, a formação das escalas, a afinação, os paralelos entre o ritmo e a palavra, e a relação com o tempo e o silêncio.
Estão abordados também temas como a concepção circular do tempo, o aprendizado baseado na oralidade, a importância da memória e da palavra, e a atuação dos sons sobre os seres humanos.
Trazendo uma valiosa contribuição para este que é um tema ainda inédito no mercado editorial brasileiro, Música Árabe: expressividade e sutileza é uma iniciativa importante e bem vinda.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Tarab - o arrebatamento artístico

DEFINIÇÃO

Tarab é um termo difícil de traduzir, pois implica vários conceitos:

- Linguisticamente, refere-se a um estado de elevação emocional, frequentemente traduzido por arrebatamento, êxtase ou encantamento, mas que pode indicar tristeza ao mesmo tempo que alegria.

- Descreve um estilo de música e apresentação musical nos quais estes estados são evocados e despertados.

- Constitui um termo geral na estética árabe que descreve um tipo de êxtase estético em relação a algum objeto artístico relacionado ao ato de ouvir, podendo ser uma música ou um poema.

Tarab pode então ser entendido como uma experiência, algo que acontece no momento da apresentação musical entre o público e o artista. Para isso acontecer, são necessárias algumas condições em relação à performance do artista, à relação com o público, às músicas escolhidas e ao espaço onde ocorre.

Etnomusicologistas descrevem o Tarab como um estado emocional provocado na plateia como resultado da dinâmica interação entre o artista, a música, a letra, o público e alguns outros fatores.


O QUE É NECESSÁRIO PARA ACONTECER O TARAB

- Performance do artista:
O ingrediente mais importante para que o artista evoque o Tarab é a Sinceridade Emocional (sidq). Implica um sentimento genuíno, uma carência de artifício, e ocorre quando o humor do modo domina as emoções do artista e também há uma rendição deste ao verdadeiro significado da letra da música, traduzindo estes elementos através de seus próprios sentimentos.
A sinceridade está intimamente ligada ao artista imbuído de Espírito Oriental (ruh), ou seja, que tem a capacidade de entrar na música, mergulhando no estado correspondente a cada modo.
Um artista precisa de tempo para se aquecer antes de entrar em um estado de harmonia interna, de estar aberto ao sistema modal e só então ter a habilidade de evocar o Tarab em outras pessoas. Não é a representação da letra da música, nem uma mímica calculada, uma interpretação forçada, artificial.
Na verdade, antes de um músico ser sincero com o público, ele tem que ser sincero com ele mesmo. Se a atmosfera criada é artificial ou superficial, o público percebe e acaba por se distanciar do artista. Mas quando o público percebe a entrega e a sinceridade do artista, é criada uma ligação, que pode trazer à tona o estado interno associado com as experiências do Tarab.

- Relação entre artista e público:
Todos os estudiosos enfatizam a importância da conexão entre artistas e público, a familiaridade do público com a música árabe e a qualidade da atmosfera criada, como condições para a experiência do Tarab.
Quando esta conexão existe, os ouvintes tendem a considerar uma apresentação um sucesso e o artista autêntico, o que geralmente significa que ele ou ela é dotado com Sinceridade Emocional e Espírito Oriental. Em outras palavras, a conexão entre os artistas e o público se torna o maior foco do julgamento estético.
Mas é preciso tomar cuidado com os estereótipos em relação à expressividade dos sentimentos. O Tarab é um sentimento autêntico, é algo que ocorre internamente.
Quando a conexão entre artista e público é autêntica e acontece o arrebatamento, é comum haver as aclamações, movimentos dos braços, dança, suspiros, gritos e palavras de encorajamento por parte do público e o artista costuma responder a isso com movimentos similares. Estes movimentos estabelecem uma estrutura aonde os ouvintes e os artistas expressam e entendem suas experiências. Só que, quando estas manifestações são artificiais o que ocorre é a ilusão do Tarab, uma representação.

- Boa escolha musical:
A maneira como os sons acontecem na música modal, como é a árabe, pode produzir estados emocionais de alegria e êxtase, mesmo que a pessoa não conheça tecnicamente a música. Logo, o artista tem a responsabilidade de escolher músicas que contenham as características mais importantes da música modal: o estabelecimento de um território sonoro ligado a um humor, a homofonia, a valorização da palavra, os detalhes improvisados.
Assim, o encadeamento sábio dos modos rítmicos e melódicos, o controle do tempo e do silêncio do taqsim, a arte da modulação, a pronúncia correta das palavras, o sentimento autêntico, tudo isso contribui para que seja estabelecida uma atmosfera propícia ao Tarab.
Mas focar apenas na música significa perder a dimensão do significado da apresentação e introdução do processo no qual artista e ouvinte experimentam e se comunicam emocionalmente durante uma apresentação.

- Local do espetáculo:
Em um espaço menor, mais íntimo, o contato visual e a interação pessoal direta entre o artista e o público propiciam o aparecimento do Tarab. Estes ingredientes de intimidade são facilmente perdidos em grandes eventos, com de uma cantora egípcia, considerada por muitos a maior de todos os tempos: Umm Kolthom.
Com o aumento da dimensão dos espaços de espetáculos e a tranformação da experiência musical em grandes eventos, a ligação enter o público e o artista não permite um envolvimento baseado na empatia, na intimidade e na força do artista.

SUGESTÕES DE AUTORES PARA LEITURA - Ali Jihad Racy e Jonathan H. Shannon