domingo, 12 de julho de 2009

Rastreadores do deserto


Lendo as areias

Será que o deserto é um mundo de areia sem nenhum ponto de referência?
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Se fôssemos moradores do deserto saberíamos que não. Mas só quem tem a experiência do lugar consegue ver suas nuances. Um exemplo típico é o quanto a areia pode revelar sobre as pessoas e animais que aí vivem.
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Os rastreadores são profissionais com habilidade para “ler” marcas deixadas nas areias do deserto. Compõem uma elite que trabalha localizando pessoas ou animais, seja para esclarecer crimes, ajudar na caça ou procurar parentes e amigos. Têm atuação importante também na preservação ambiental e na guerra terrorista e, por isso, muitas vezes trabalham para o Governo. Ainda existem escolas de rastreamento que estão rareando apesar de sua importância estratégica.
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Mas como ver marcas na areia, em locais onde várias pegadas se confundem, o vento sopra, etc.?
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Há muito tempo, ser um rastreador sempre foi uma grande responsabilidade e status para uma tribo ou clã. Estes tomavam a decisão final e frequentemente eram líderes. Existem tribos famosas por seus rastreadores como, por exemplo, os Murrah, na Arábia Saudita. Eles são líderes entre os beduínos e percorrem grandes áreas com suas manadas de camelos por um território de cascalhos e dunas. Usando a acurada técnica de observação e memória impecável, deslocam em segurança suas famílias por terrenos sem traços característicos para um forasteiro.
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Um rastreador pode ler a areia sem dificuldades maiores das que um morador da cidade moderna tem para ler um livro..
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Como eles adquirem tanta habilidade?
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O aprendizado começa cedo; os garotos têm que reconhecer seus camelos pelo nome e pelo rastro, e eles sempre tinham que saber qual rastro foi feito pelos animais e pessoas de seu próprio grupo. São treinados e testados de várias formas e, conforme crescem, vão ouvindo e aprendendo com os mais velhos essa arte.
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Com o treinamento constante acabam por ver, através dos rastros, se o dono daquela pegada está com fome ou cansado, ou há quanto tempo passou. Observam o ambiente ao redor, se existe um galho quebrado; o rastro de outros animais; se as pressões feitas ao caminhar estão mais voltadas para um lado do que para outro; qual foi o caminho percorrido, etc.
O que uma pegada tem de diferente não é sua forma, mas a maneira como a impressão foi feita. Todo mundo tem uma maneira única de andar.
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Os rastros são, na verdade, tão distintos quanto a impressão digital.
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Um rastreador caminha pelas pegadas e, uma vez que as vê, não olha para trás: as impressões vão sendo mandadas para sua memória. Faz assim um mapa mental, seja de uma pegada, seja de um lugar inteiro. Cada rastro tem em si um pequeno mapa topográfico, que revela seus sinais secretos. É um jogo intenso entre hipóteses e conseqüências lógicas. Na verdade, o que se lê são as pressões:
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Quando um rastreador vê pegadas, é como se visse um rosto olhando para ele.
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Hoje em dia, esta atividade está perdendo seu lugar para exames de DNA e outras tecnologias. Apesar disso, eles ainda ajudam no confisco de armamaento e explosivos, nas interdições de contrabando e mesmo nas construções modernas encontram pistas e marcas.
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Pois é, naquela areia toda há mais sinais do que poderíamos supor...

5 comentários:

  1. Nossa, realmente impressionante! É difícil imaginar como é que uma pessoa consegue saber tanta coisa por uma pegada, que como você mesma diz, pode sumir facilmente com o vento ou ser confundida com tantas outras. É uma tarefa bem difícil, admiro quem tem essa habilidade, eu jamais seria capaz disso, hhahuauhahu.

    Beijinhos!

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  2. Marcia, este texto é realmente bárbaro!

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  3. Márcia, excelente esse texto, impressionante mesmo! Quero te perguntar duas coisas, vi seu comentário que diz que a DV aumenta o nível de estrogênio no corpo, quero muito saber mais sobre isso, pois esse assunto me interessa horrores, rs, mas não encontrei nenhuma fonte confiável na internet.

    Vc sabe onde eu posso procurar?

    Outra coisa, escreva sobre seu trabalho com as crianças, gostaria muito de divulgá-lo lá no blog, achei interessantíssima sua proposta!

    Uma beijoca.

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  4. Parabéns pelo belo artigo da Anba sobre o work-shop! A matéria está junto a outras bem importantes na área de cultura, na própria Anba.
    Teu trabalho está caprichadíssimo aqui! You are great! Como muitas outras palavras especiais, 'grêit' acho que tem origem naquela região perto do rio Assi, ou Orontes... Nénão?
    Bjs!

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  5. È a primeira vez que acesso este site e esta matéria é impressionante !! È incrivel como estamos perdendo com o avanço da tecnologia habilidades e ensinamentos fanstásticos como este da matéria.

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