Entrevista cedida à Central da DAnça do Ventre
Ela fez mestrado sobre cultura árabe, lançou o 1º livro sobre Música Árabe do Brasil, ministra cursos e palestras pelo país….e muito mais. Entrevistei ela pra contar um pouco de tanta coisa bacana que ela faz por nós e pela cultura árabe no Brasil.
1. Você fez mestrado na USP sobre Cultura Árabe, que depois te levou a lançar o livro Música Árabe. De onde veio este interesse pela Música Árabe?
Eu estudei música desde pequena: piano, canto, percepção e teoria musical. Mas sempre a música ocidental.
Quando comecei a praticar as danças árabes, fiquei maravilhada com as sonoridades orientais e decidi pesquisar mais sobre a música árabe.
Mais tarde, quando fui para a Síria p
ara estudar as danças e músicas de lá, percebi a riqueza e diversidade da cultura árabe. Existem muitas manifestações musicais árabes, mas a base sonora é a mesma. Escrevi o livro para falar sobre o que a música árabe tem em comum, já que seria impossível falar sobre “toda” a música árabe.
2. Você ministra cursos e palestras pelo Brasil sobre Música Árabe, quais as dificuldades e interesses que você nota que são mais comuns em quem dança?
Existe bastante interesse em conhecer melhor a música. Cada vez mais as pessoas percebem o quanto a música pode ser explorada para fazer uma dança mais bonita.
Eu percebo que a maior dificuldade é o estudo das melodias; trabalhar as características da melodia a favor da dança. O estudo de música árabe no Brasil é muito concentrado no ritmo e, às vezes, a parte melódica é deixada de lado. É uma pena, já que um mesmo ritmo pode ser o “chão” de diversos tipos de melodia.
Percebo também um certo receio das pessoas em relação à música árabe, como se ela fosse muito difícil de entender. Nos cursos elas acabam perdendo o medo e conseguindo conversar sobre música e aproveitar o que ela tem de bom.
3. Na sua opinião, quais os elementos da música árabe que são mais essenciais para uma bailarina de Dança do Ventre conhecer e dominar? Estes itens as bailarinas encontram no seu livro? E encontram em quais cursos seus?
Acho muito importante perceber que existem uma intenção por trás da música. Ter claro que, “do lado de lá” da música existe uma pessoa que pensou em tudo: na estrutura da música, nas frases melódicas e rítmicas, nas pausas... Ao perceber a intenção do compositor (e para isso é preciso sentar e ouvir várias vezes, saboreando cada trecho), a bailarina consegue explorar com muito mais segurança cada aspecto da música. Ela mergulha na música e extrai o melhor dela!
No livro eu abordo várias características da música e da composição musical, tanto em relação às melodias como aos ritmos. É um livro de consulta, de estudo constante. A pessoa pode ler aos poucos, conforme suas dúvidas e interesses.
Eu monto os cursos em função das necessidades das pessoas. Existem os cursos gerais, sobre música árabe e musicalidade, mas também costumo oferecer cursos personalizados.
4. Além da música árabe, uma outra vertente forte de seu trabalho é o Folclore Árabe, mais especificamente o da Síria. Conta um pouco de onde surgiu este interesse e como é seu trabalho com este folclore.
Minha família é da Síria, vieram há bastante tempo mas ainda temos ligações com nossas raízes. Quando fui estudar dança na Síria, não conhecia nada do folclore de lá (apenas um pouco do dabke...). Fiquei muito surpresa com a diversidade das danças! Acabei voltando para lá para estudar com professores particulares e também fiz estágio em um grupo de danças folclóricas. Foi um processo muito enriquecedor, voltei completamente fã daquelas danças tão pouco conhecidas por aqui.
5. Quais as principais características do Folclore da Síria? E quais você mais gosta?
A Síria é um país muito grande e possui diversas danças regionais. Existem as danças das montanhas férteis, as danças do deserto, aquelas praticadas no norte (próximas ao Rio Eufrates), as danças das cidades grandes e pequenas... São muitas manifestações diferentes e lindas, é difícil escolher uma predileta! No meu blog existe uma postagem que fala um pouco sobre elas, veja aqui.
6. O seu livro Música Árabe foi o 1º a ser lançado sobre o tema no Brasil. Conta um pouco sobre quando lançou, como foi o processo de criação. E onde as pessoas podem encontrar ele pra comprar.
Enquanto eu estava elaborando a minha dissertação de Mestrado, eu precisei falar bastante sobre as músicas da Síria, mas não havia material em Português. E pouquíssimo material em outras línguas... Tive que voltar para a Síria para conseguir material teórico para justificar algumas coisas que são óbvias para qualquer músico árabe. Coisas do meio acadêmico... Então fiz um capítulo dedicado à música, para que as pessoas conseguissem entender sobre o que eu estava falando. Depois que eu entreguei o Mestrado, surgiu a oportunidade de editar o livro. Fiz uma revisão e ampliei as informações contidas na dissertação e publiquei o livro, que teve ampla aceitação. Como a edição é minha, as pessoas podem comprar diretamente comigo (é só entrar em contato aqui ou pelo email marciadib@hotmail.com). Se preferirem, podem comprar pelo site da Shimmie, tem exemplares lá também.
7. Você nota que o Brasil nutre especial interesse pela cultura árabe, tanto no que diz respeito à culinária, literatura, arte e dança? A que você atribui este interesse?
Acredito que o grande interesse aconteça por três motivos: primeiro, as culturas do Mediterrâneo são muito próximas e no Brasil existem forte imigração mediterrânea e acaba existindo uma identificação.
Em segundo lugar, porque os árabes estiveram presentes em Portugal e no norte da África, por onde vieram indiretamente muitas influências árabes para o Brasil, pelos colonizadores e povos escravizados (nas palavras, alimentação, hábitos, música e dança).
E em terceiro lugar, porque a cultura é linda, rica e interessante! Sou suspeita... rs
8. Qual conselho você daria para quem dança?
Nunca perca de vista que a dança nasceu em um ambiente cultural específico. Foi a partir de danças simples, do cotidiano, que vieram as raízes da dança do ventre. Ela foi sendo construída de maneira a se tornar uma dança-espetáculo, mas não deveria perder suas origens.
Penso da mesma maneira em relação à música. A música árabe é feita em cima de bases tão profundas e maravilhosas, que deveriam ser sempre o nosso chão para dançar.
A sabedoria árabe está presente em todas as manifestações culturas e artísticas, e não deve ser esquecida ou pouco aproveitada.
9. Quer deixar algum recado, alguma dica? Fica à vontade.
Eu diria para nunca deixar de estudar, de ter curiosidade, de ampliar seus horizontes. Isso é estar viva! O artista deve estar sempre aberto a se desafiar, a aprender coisas novas. E eu estou sempre à disposição para quem quiser estudar. E só entrar em contato comigo!
Marcia Dib é Mestre em Cultura Árabe pela FFLCH/USP e autora do livro Música Árabe: expressividade e sutileza
Blog: http://marciadib.blogspot.com.br/Facebook: https://www.facebook.com/marcia.dib.5
Email marciadib@hotmail.com
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